Trilha sonora

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

1º CAPÍTULO DE ORGASMOS FATAIS PARA DEGUSTAÇÃO


CAPÍTULO 1

Às dezoito horas de uma quinta-feira do mês de fevereiro de 2010, Mary Alves, após chegar do trabalho, tocou a campainha de seu apartamento situado no Grajaú e ficou aguardando que sua filha mais velha viesse abrir. A empregada estava de folga e Mariana, que tinha acabado de se formar na faculdade de Direito, se recuperava de uma cirurgia estética nos seios na casa de sua mãe, com quem sempre morou.
Mary tocou impacientemente mais duas vezes, pois estava realmente cansada, louca para tomar um banho e se deitar. Ela procurou a chave na bolsa, imaginando que Mariana estivesse dormindo, o que era comum nos últimos dias, em razão dos remédios receitados por seu médico para evitar dores no local da cirurgia. Porém, quando ela enfiou a chave na fechadura a porta se abriu automaticamente, antes mesmo dela iniciar o giro, o que a deixou inquieta. Mariana não deixava a porta destrancada, ela tinha medo de assaltos.
A porta principal realmente estava aberta e ela sentiu um arrepio gelado, pois chamou Mariana e ninguém respondeu. Devagar, Mary entrou na sala de estar, grande e bem mobiliada. Instintivamente, ela olhou assustada para um dos sofás que ficava de frente para a porta principal — um móvel grande e pesado. O ambiente parecia estar em ordem, mas Mary sentia o coração disparar à medida que se aproximava do móvel avantajado. Caminhou pela lateral deste, para poder olhar atrás e não pôde conter o grito de pavor:
— Mariana, não! Socorro... a minha filha! Socorro!
Os gritos alucinantes e roucos logo atraíram vizinhos, que ao entrarem naquela casa, se depararam com Mary em estado de choque, ajoelhada sobre o corpo ensanguentado de Mariana. Todos ficaram perplexos com o que viram e tentavam afastá-la dali, mas a mulher não soltava o corpo de sua bela filha — uma morena clara, de 32 anos, alta, tipo “mulherão”, com cabelos compridos e escuros e que agora ali jazia inerte. Ela trajava um vestido simples sem mangas e na altura dos joelhos, de cor bege, folgado no corpo e sem muitos detalhes; estava gravemente ferida, o corpo banhado em sangue tingia o tecido fino e delicado, as sapatilhas rasteiras também estavam vermelhas, indicando que seu sangue jorrava em abundância. Seus olhos abertos e frios davam uma sombria sensação de que ali não havia mais vida.
Porém, Mariana conseguiu forças para murmurar algo à mãe, que embora estivesse em prantos e prestes a perder seus sentidos, ao ouvir a voz da filha já moribunda, pareceu recuperar parte de sua racionalidade e disse:
Sim, meu amor, eu estou aqui. Fica quietinha, a ambulância está chegando e você vai ficar boa...
— Foi ela, foi ela... — sua voz saía como um sopro.
Mary arregalou os olhos, sem entender bem o que ouvia e olhou ao redor, percebendo aquelas pessoas dentro de sua casa; estavam fazendo ligações diversas, para hospitais, polícia, enfim... Ela estava no meio de um caos. Então, aproximou bem o ouvido dos lábios da filha, para entender o que a mesma tentava lhe dizer. A voz de Mariana estava fraca, muito fraca... o som saía estranho.
— Ela quem meu amor? — as lágrimas vinham com intensidade. — Fala, por favor.
— Ela... — Mariana suspirou e sua respiração parou.
Mary gritou desesperada e então, só percebeu um homem de branco — que posteriormente soube ser um enfermeiro — aplicando-lhe um sedativo que a deixou praticamente fora de si. Alguém já havia chamado o Corpo de Bombeiros e um dos socorristas atendeu a desolada mãe, enquanto todos aguardavam a chegada da polícia.
Logo, policiais militares chegaram e trataram de isolar o local, afastar os inconvenientes curiosos e arrolar testemunhas potenciais, tais como o porteiro, vizinhos mais próximos, bem como identificar e qualificar a vítima e sua mãe. Estavam procedendo assim, quando dois policiais civis da Delegacia de Homicídios e dois peritos chegaram juntos para assumirem o controle da situação. Um dos agentes policiais, um homem de meia-idade, moreno claro, de cabelos escuros e lisos, altura mediana e semblante sério, se aproximou do policial militar que protegia o local e se apresentou, indicando também seu colega de trabalho, um policial mais jovem. Para aquele policial militar era evidente que o segundo tinha bem pouco tempo de profissão, ao contrário de seu colega de voz grave e firme:
Eu sou o inspetor Douglas e este é meu colega Luiz. Nós somos da Delegacia de Homicídios.
Todos se cumprimentaram cordialmente e Douglas, experiente em investigar casos de homicídio, iniciou suas perguntas ao policial militar, que se apresentou como Sargento Mota.
— Quem era a moça? — Douglas perguntou.
— O seu nome era Mariana Alves Andrade e tinha 32 anos. Parece que ela estava passando uns dias na casa da mãe — ele apontou Mary no sofá. — Ela se recuperava de uma cirurgia.
Tinha algum problema de saúde? — interrompeu o inspetor veterano, enquanto examinava o local.
— Não — riu o Sargento. — Ela colocou próteses de silicone, mas pelo jeito alguém não gostou e furou suas “bolinhas” novas. Ela tem ferimentos no peito. Parecem facadas, mas não encontramos a provável arma do crime ainda.
Foi a mãe quem encontrou o corpo? — Douglas observava a mulher quase inconsciente.
Sim. Mas na verdade a filha ainda estava viva. Um vizinho que estava perto ouviu quando a vítima sussurrou algo como: “foi ela, foi ela...”. Mas, ela morreu logo em seguida.
— Então, ela mencionou algo neste sentido antes de morrer? — Douglas olhava atentamente agora para o corpo da vítima, enquanto Luiz anotava freneticamente tudo o que via e ouvia.
— Sim. Desculpe-me a pergunta inspetor, mas onde está o delegado?
Pra variar não veio — Douglas deu uma risada discreta. — Mas nós estamos aqui, não estamos? Já telefonamos e pedimos a ele que se apresse... afinal, se ele ganha mais não é à toa, não é mesmo?
— Eu entendo inspetor — Mota riu e coçou a cabeça, analisando que as mentes mais brilhantes e os agentes mais atuantes na polícia não eram chamados de “doutores” e não tinham um salário tão digno quanto à função que exerciam.
Douglas pediu licença ao Sargento e dirigiu-se ao perito criminal, que procurava vestígios no local. Ele conhecia aquele perito, um bom profissional, pois já haviam trabalhado juntos. Isto era um fator facilitador para o policial.
O perito, conhecido como Nunes, logo acenou para Douglas e Luiz, exibindo um objeto acondicionado em um saco plástico.
Encontrou algo? O que é? — perguntou o interessado Douglas. Ele já começava a se envolver naquela ocorrência, que com certeza tiraria muitas de suas noites de sono. Aliás, isto sempre acontecia quando ele se via envolvido em investigações de homicídio como aquela.
— Isto estava no carpete, próximo ao sofá — Nunes explicou. — Parece ser uma pedra de anel quebrada, mas somente após a conclusão do laudo nós poderemos afirmar se é isto mesmo. Mas uma coisa é interessante: a vítima tem um ferimento no lado esquerdo do rosto, que pode ter sido causado por um objeto como este. Por enquanto estamos no campo das suposições.
Se isso for uma pedra de anel, ela poderia ter levado um soco? — Douglas raciocinava.
— Poderia sim, ou até mesmo ter levado um tapa com as costas da mão, o que me parece ser o mais provável — o perito fez um gesto com a mão, imitando o movimento. — Até porque, pelo que eu pude avaliar, ela levou cinco ou seis estocadas no peito, talvez facadas. Os ferimentos foram causados por instrumentos diferentes. — Nunes guardava o objeto apreendido.
— E tem mais: quem lhe causou esse ferimento no rosto deve ser canhoto... ou canhota.
Douglas ficou quieto e de repente um homem branco e alto, trajando terno e gravata, entrou no recinto, exibindo aos policiais seu distintivo. Era o delegado de polícia, que procurava esbaforido os seus subordinados.
— E aí, algo relevante? — perguntou o próprio.
— Parece que a vítima tentou falar para a mãe o nome de sua provável assassina — respondeu Douglas, enquanto complementava as anotações de Luiz.
— Assassina? — perguntou o delegado, um pouco surpreso. — Ela disse que foi uma mulher?
— Ela disse pra mãe que “foi ela” ou algo parecido. Mas ela não conseguiu prosseguir, faleceu em seguida.
Entendo — disse o delegado, não muito interessado no caso, já que precisou sair correndo do início de uma aula para comparecer no local daquele crime. Ele ministrava aulas de Direito Penal em uma conceituada universidade.
Mas já que estava ali, ele pretendia mostrar serviço. A autoridade aproximou-se de Mary, que estava sendo confortada por outra filha que acabara de chegar ao local e também estava muito emocionada. Sem o menor tato, ele disse:
— Senhora, eu sou o delegado Leandro, da Delegacia de Homicídios, e gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
A filha de Mary, encarando-o ferozmente, tomou a frente e disse:
O senhor não está vendo que a minha mãe não tem condições de dizer o seu próprio nome? Ela chegou a casa após um dia de trabalho, deu de cara com a filha ensanguentada atrás do sofá, assassinada de forma brutal, está dopada até a alma e o senhor age como se nada estivesse acontecendo com ela? — o tom de voz da moça aumentava.
Douglas olhou para aquela cena e balançou a cabeça negativamente. Em seguida interveio:
— Doutor Leandro, a senhora Mary tomou remédios e não está em condições agora. Tenho certeza de que depois ela será a primeira a querer colaborar com as investigações.
Douglas olhou para a outra filha de Mary, que lhe agradeceu com um sorriso triste e respondeu:
— Eu posso ajudar em alguma coisa agora? Cheguei depois, mas... — ela se dirigia unicamente ao inspetor, enquanto o delegado se afastava contrariado.
Não vou enchê-la de perguntas agora, eu sei que este momento não é fácil. Por enquanto, eu só gostaria de saber algumas coisas sobre vocês — Douglas fez uma pausa. — Você também mora aqui? Sua mãe trabalha em quê, exatamente?
— Eu me chamo Isadora e sou a segunda de três filhas. Mariana era a mais velha e morava com a minha mãe e seu filho de 10 anos, o Felipe... — ela recomeçou a chorar de repente. — Nossa...  como nós vamos contar isso ao menino?
Seguiu-se uma pausa constrangedora, enquanto Isadora tentava recompor-se. 
Depois, Douglas perguntou:
— Então, ela tinha um filho?
— Sim, ela era mãe solteira. O Felipe está na casa do pai, passando alguns dias. A Mariana tinha um relacionamento amistoso com o pai do meu sobrinho. Na verdade, a minha irmã estava praticamente morando com o atual namorado. Ela ficava uns dias aqui, outros com ele e estava se acostumando com a nova rotina. Minha mãe é contadora e chega sempre do trabalho por volta das dezoito horas. Ela adorava a companhia da Mariana... Eu sou casada já há sete anos e minha irmã mais nova, a Ana, ela também mora com o marido.
Você tem o telefone ou o endereço do namorado da sua irmã?
No momento não, mas eu posso conseguir e passar para o senhor depois, tudo bem?
Está bem — ele anotou os dados que Isadora lhe fornecera.Muito obrigado Isadora. Eu vou telefonar para marcarmos uma oitiva na delegacia, tá bom?
A jovem acenou afirmativamente com a cabeça e Douglas retornou para falar com o perito.
Impressões digitais? — perguntou o próprio, aproximando-se do experto[1].
Como sempre, muitas. Provavelmente encontraremos também as da própria vítima e é certo que quem a matou limpou o local. E não há sinais de arrombamento na porta, nem de luta corporal, muito menos arrastamento do corpo. Logo, eu acredito que a vítima já estivesse atrás do sofá quando recebeu os golpes fatais.
— Não houve luta, a princípio, mas o que me diz sobre o ferimento em seu rosto? — lembrou Douglas.
Se ela foi realmente nocauteada, não houve luta. O assassino ou a assassina pode tê-la derrubado ou dominado e ela nem teve chance de se defender — o perito apontou para uma arca localizada atrás do sofá. — O corpo está caído entre aquele móvel e o sofá e em cima do primeiro vemos alguns analgésicos.
— Pelo jeito também, nada foi roubado, não é? — Douglas perguntou.
A princípio nada. Mas isto só a dona da casa poderá confirmar — disse Nunes e olhou rapidamente para Mary, que chorava exaustivamente.
Doutor! — Luiz chamava o delegado, que foi seguido por Douglas até o banheiro localizado em um corredor, logo após a sala. — Olha só isso aqui — revelou o policial novato, entusiasmado ao apontar a descoberta, um indício talvez: uma peruca preta, de tamanho médio, fios lisos e de corte reto, estava jogada no chão do banheiro.           O delegado precipitou-se e já ia pegar o objeto, sendo impedido a tempo pelo inspetor Douglas, que disse:
Doutor, cuidado para não alterar a cena do crime. O perito vai apreender a peruca e mandar para análise ainda — o policial já estava impaciente com as atitudes nada profissionais de seu superior hierárquico.
— Eu sei. Eu não ia pegar a peruca, não sou estúpido — disse a Autoridade, visivelmente aborrecido com o fato de um subordinado apontar os seus erros o tempo todo.
Por que o assassino viria até aqui jogar uma peruca no chão? — perguntou o inexperiente, porém dedicado e interessado Luiz.
Vai ver que ele ou ela queria lavar as mãos, né? — disse um policial militar, fazendo piada com a situação.
Um silêncio desconfortável seguiu-se, porém Douglas deu um sorriso para o homem que, apesar de ter sido hostilizado por sua brincadeira de mau gosto, poderia até estar certo.
— Doutor Leandro, nós vamos precisar ouvir o porteiro o quanto antes e apreender os DVDs de filmagens. Não sei se o senhor percebeu, mas o prédio possui câmeras logo na portaria — lembrou Douglas ao seu chefe.
— Claro, marque as oitivas para amanhã cedo. Eu estarei na delegacia às oito horas.
Ato contínuo, os peritos fizeram a remoção do corpo ao Instituto Médico Legal, o que provocou mais desespero na mãe. Aquela cena era massacrante demais. Os agentes saíram do local em seguida, enquanto Mary era amparada por Isadora. Alguns vizinhos estavam do lado de fora do apartamento e surgiam comentários diversos; era a curiosidade natural diante de um fato daqueles. Um casal de meia-idade entrou no apartamento ao lado e, segundo Douglas ficou sabendo ali mesmo, eles teriam sido os primeiros que acudiram Mary. Parecia que já conheciam a família da vítima há alguns anos.
O policial observou o corredor do prédio: era decorado com várias plantas ornamentais e tinha uma boa iluminação. Mas o que lhe chamou atenção, depois de toda aquela cena chocante, foram duas crianças. Na verdade, uma adolescente que aparentava ter, no máximo, quinze anos de idade e um garoto que deveria ter uns dez. Estavam os dois parados na porta do apartamento, cuja entrada ficava praticamente de frente para o apartamento de Mary. A garota segurava a porta com uma das mãos, obrigando o irmão a ir mais para trás. Ela o queria dentro de casa, dava pra perceber. Ambos estavam assustados e com os olhos arregalados. Douglas imaginou que deveria ser toda aquela movimentação e os comentários. A garota estava com os olhos vermelhos, provavelmente deve ter chorado bastante ao saber da morte de sua vizinha.
Ele gostava muito de crianças, sentiu pena e se aproximou dos dois, que o olharam com medo e ao mesmo tempo curiosos.
— Como é o seu nome? — ele perguntou à garota, enquanto o menino, que aparentava ser seu irmão, se afastava um pouco mais da porta.
— Aline — respondeu ela, meio sem graça.
Douglas reparou que na sua outra mão, a menina segurava uma câmera digital e parecia tentar escondê-la.
— Nome bonito — disse Douglas em um tom simpático.
Ela riu, mas logo o seu olhar se voltou novamente para o corredor, ainda repleto de pessoas. O corpo da vítima estava sendo levado em um saco plástico preto.
— Você mora aqui? — perguntou ele.
A menina acenou afirmativamente com a cabeça.
Mas, quando Douglas já ia fazer outra pergunta à jovem, uma mulher de seus sessenta anos, cabelos grisalhos e óculos de grau pesados, passou por ambos e entrou no apartamento. Ela era avó dos dois e começou a brigar com a neta:
Deixa de ser fofoqueira, Aline! — esbravejou ela, pedindo licença ao policial e puxando a neta para dentro. — Desculpe policial, eles são muito curiosos.
— Eu só estava conversando com ela. A menina está triste. A senhora é parente dela?
A mulher olhou com mais atenção para a neta, percebendo o seu olhar cabisbaixo.
— Eu sou avó dos dois. Ela gostava muito da Mariana, mas tem uma mania muito feia, ela e o irmão, de ficarem vigiando a vida alheia. Já levaram até uma surra da mãe por causa disso.
Douglas observou Aline, que agora estava sentada no sofá de sua sala, com o olhar meio distante e as mãos sobre sua câmera. O irmão estava deitado sobre suas pernas.
— Eles ainda são muito novos, senhora — disse Douglas. — Dá um desconto pra eles.
— Sim senhor — a mulher deu um meio sorriso e já ia fechando a porta, quando Douglas lhe fez outra pergunta:
— Seus netos chegaram agora da escola?
— Não, eles estudam de manhã. Eu fui ao mercado e os dois ficaram em casa. Eles ficam vendo televisão, brincando no videogame... essas coisas.
Ah... entendo. Não se esqueça de orientá-los a trancarem sempre a porta. Deu pra ter certeza de que não existe mais segurança em lugar nenhum, não é mesmo? — ele arregalou os olhos e a mulher acompanhou o gesto.
— Claro, o senhor tem razão. Muito obrigada.
— Não foi nada — Douglas deu um aceno para a vizinha de Mary e saiu olhando para os lados, para o chão... nem mesmo o teto escapava. Ele sentia uma forte pressão no peito e não era mal-estar físico, pois o charmoso policial gozava de excelente saúde. Era sua intuição querendo lhe dizer que aquelas paredes ainda tinham muito a lhe contar.


[1] “Experto” com “X” é sinônimo de “perito” e não se confunde com “esperto”. Em Inglês, “expert”.


domingo, 13 de novembro de 2011

CONTOS POLICIAIS MUITO BONS!


Não farei uma resenha muito grande, pois Sir Arthur Conal Doyle está pra lá de consagrado na literatura policial. Apenas expressarei, de forma sucinta, minha opinião sobre esta pequena coletânea de cinco contos do celebrado escritor escocês.

1) A Faixa Malhada: acho que foi o meu preferido, pois achei a trama criativa e até mesmo horripilante. Mas antes que Sherlock revelasse o que seria a "faixa malhada", eu percebi do que se tratava.

2)Um Escândalo na Boêmia: aqui, nosso sagaz detetive conhece Irene Adler, "a mulher". Ele encontra alguém à sua altura, no que concerne a inteligência e astúcia.

3)A Liga dos Cabeça-Vermelha: chega a ser engraçada, pois lembra os golpes que as pessoas sofrem por parte de vigaristas. Sabe aquela célebre frase: "quando a esmola é grande..."? Desconfie!

4)O Problema Final: relata a "morte" de Sherlock Holmes, sempre através das narrativas de Watson.

5) A Casa Vazia: triunfante retorno de Sherlock Holmes.

Sherlock Holmes, além de inteligente e lógico, possui de um senso de humor inigualável! Frio e sarcástico, ele consegue irritar seus inimigos, pois além de tudo, é destemido.

Obra altamente recomendada.

sábado, 5 de novembro de 2011

UM ACHADO!!!


SINOPSE:

Um serial Killer choca o mundo após dar início a uma onda de assassinatos brutais, com perversos requintes de crueldade. Sua metodologia: ressuscitar os crimes mais hediondos do passado, utilizando-se de pessoas inocentes como alvo. Em sua lista, alguns dos casos que mais chocaram o país: Von Richthofen, Daniella Perez, PC Farias e o sinistro Meninos de Altamira.

Chamado pela mídia de O Copiador, o sociopata deixa em cada um de seus crimes  a foto da próxima cópia, e uma aterradora promessa: "As mortes não cessarão enquanto Dom João da Costa Cunha continuar a viver". É conclave na Igreja Católica e o cardeal brasileiro é o nome mais cotado para ser eleito Papa.


Para comandar o caso, a polícia convoca o renomado Delegado Ronaldo Leme, que dá início à maior caçada policial da história. Com uma equipe de detetives policiais altamente qualificados e o auxílio dos mais extraordinários equipamentos de investigação criminal, eles correm contra o tempo para deter O Copiador, mas esbarram em uma série de evidências enigmáticas, as quais precisam decifrar.

O caso cai como uma luva nas habilidosas mãos da imprensa, que exerce toda sua pressão sobre os ombros da polícia e transforma cada assassinato num espetáculo de horror.

O que move o Copiador?
Qual sua ligação com o cardeal?
Por que ele só mata aos sábados?

É com orgulho que digo que os autores brasileiros de suspenses policiais, principalmente os que estão despontando, estão dando um show! Demonstram conhecimento sobre o que estão escrevendo e não apenas se baseiam no que a TV ou o cinema retratam sobre o misterioso mundo investigativo. E o mais curioso é que foi escrito por dois jornalistas, mas parece que você está lendo fatos narrados por típicos policiais. Vide Júnior e Carllos Santos também expõe com sinceridade a antipatia mútua entre policiais e imprensa e como esta, quando bem manipulada, ao invés de ser uma pedra no sapato da polícia, pode ser de grande ajuda na solução de um crime complexo.

O livro te prende do início ao fim, não dá vontade de parar de ler, porque a trama é bem amarrada, sem discrepâncias, enfim... colocou muito nome bom e antigo pra trás, na minha opinião. A obra é consistente, de acordo com a nossa realidade e retrata o trabalho da polícia civil paulista. Se o leitor comparar com o livro Orgasmos Fatais, por exemplo, conseguirá perceber com nitidez a diferença entre os investigadores paulistas e cariocas. Igualmente competentes, mas com suas peculiaridades. E isto, tanto no que diz respeito à metodologia de trabalho, quanto ao comportamento. Achei bastante interessante confrontar tais aspectos.

Eu coloco este livro e o da Bianca Carvalho - Jardim de Escuridão - como sendo os melhores livros policiais (thrillers) de escritores pátrios que li até o momento. São estilos bem diferentes, mas ambos de excelente qualidade. Infelizmente, não vemos a mídia dar o devido prestígio a obras tão boas e, pra piorar, alguns leitores ainda torcem o nariz para os nacionais, sem ao menos dar uma chance para a leitura. Só têm a perder com seus pré-conceitos infundados.

Os autores de Investigação Criminal - O Assassino do Sétimo Dia - têm bagagem e fizeram um excelente trabalho, que merece se tornar um best-seller e até mesmo um roteiro de cinema. Por que não, né?

sábado, 29 de outubro de 2011

OS ASSASSINATOS NA RUA MORGUE & A CARTA ROUBADA - EDGAR ALLAN POE




AVISO:


ESTA RESENHA CONTÉM SPOILER!!! NÃO LEIA, CASO DESEJE CONHECER A OBRA POSTERIORMENTE!


Não sou chegada a fazer resenhas contendo SPOILER, mas neste caso, para que meus comentários fizessem sentido, fui obrigada a quebrar minhas próprias regras.

Este foi o primeiro trabalho de Edgar Allan Poe que chegou às minhas mãos. É um livro pocket e que contém somente dois contos, cujos títulos estão referenciados acima. Perfeito para quem não quer perder horas em leituras muito elaboradas e longas. Mas, mesmo sendo um livro de pouco mais de 90 páginas, o escritor americano consegue ser profundo em alguns trechos. Eu achei isto bem interessante, pois sair do superficial em contos, especialmente policiais, não é algo tão fácil de se fazer.

Agora começo o SPOILER:

o primeiro conto me agradou mais e retrata dois possiveis assassinatos de mãe e filha, que moravam solitárias em uma casa de 4 andares na Rua Morgue. Vizinhos ouvem gritos e vozes estranhas às das moradoras e correm para ver o que ocorre com tão pacatas mulheres. Eles conseguem distinguir a voz áspera de um francês (e nisto as várias testemunhas são praticamente unânimes) e outra voz estridente, de um estrangeiro, porém proferindo palavras impossíveis de serem compreendidas. E em relação a esta segunda voz, as diversas testemunhas, reparem, de nacionalidades também diferenciadas, entram em conflito ao definirem-na: cada um sugere que a voz seja de determinada nacionalidade (italiana, russa, inglesa, etc), porém sequer conhecem o idioma ao qual se referem. E isto já me chamou atenção!

Então, ao chegarem ao 4º andar, se deparam com o horror: o quarto todo quebrado, nenhum objeto de valor subtraído e o corpo da filha atolado em uma chaminé, tendo sido necessária a força de várias testemunhas para conseguirem retirar o cadáver dali. No quintal, o corpo mutilado da mãe, com a cabeça quase cortada completamente, que cai quando tão somente mexem no cadáver. Fora o clichê das antigas tramas policiais: o quarto trancado por dentro, janelas trancadas e sem os suspeitos em seu interior... Agatha Christie adorava isto também. Mas, para tudo sempre existe uma explicação racional e Allan Poe tem este traço marcante: a lógica!

Mas, logo em seguida, outra coisa me chama atenção (página 29/30) e vou transcrevê-la, para entenderem melhor:

Nunca um assassinato tão misterioso, tão intrigante em todos os seus pormenores, foi cometido antes em Paris - se é que se trata de um assassinato. (negrito meu).

Claro ficou pra mim, que o escritor deu uma pista importantíssima para o leitor. O que poderia ser aquela cena de horror, senão assassinatos? Suicídios? E quem teria enfiado o corpo de cabeça para baixo da filha, em uma chaminé super estreita? A velha senhora? Se para retirar o cadáver foram necessários cerca de 3 homens... Não creio! A filha teria matado a mãe e depois se matado? Seu espírito teria escondido o próprio cadáver na chaminé? Não né! E as vozes que as pessoas ouviram?

Então, óbvio que as duas mulheres foram mortas brutalmente. Mas por que o autor põe em dúvida a questão assassinato? Imediatamente me recordei das aulas de Direito Penal, onde aprendemos que o homicídio só pode ser perpetrado por um ser humano contra outro ser humano. Depois disto, algum de vocês conseguiu desconfiar do que o autor, e agora esta signatária, falam? Vocês não acreditam que ele fez aquele comentário à toa, não é? Se elas não se mataram e tampouco foram vítimas de acidentes domésticos... (fora que ele comenta sobre a força brutal e ferocidade dos crimes, que não se enquadraria no mais pervertido dos criminosos), quem ou o quê lhes ceifou as vidas? Naquela época não existiam andróides! Um animal, não é mesmo? E eu acertei em cheio... A voz estridente era de um orangotango feroz que escapara de seu dono. Este, um marinheiro, havia perseguido o animal e presenciou as mortes, nada podendo fazer.

Gostei, pois foi original. Embora, na minha opinião, Allan Poe tenha sido bonzinho demais ao dar de bandeja a autoria do crime para o leitor. Ao contrário de Agatha Christie, que praticamente torna isto impossível, ele foi camarada demais, rsrsrs.

Em relação ao segundo conto, eu pude ter certeza de algo que suspeitei desde o anterior: os americanos adoram menosprezar os internacionais; eles sempre são os melhores, aqueles que enxergam até o que o deus Hélio não consegue! O personagem Dupin, que é o curioso que sempre desvenda os mistérios e deixa o Chefe de Polícia com cara de bobo, volta e meia dá um jeito de dizer que a polícia parisiense é astuta, que utiliza de excelentes meios e técnicas, mas... e aí ele, numa nítida técnica do sanduíche, ele simplesmente coloca os policiais parisienses como ingênuos. E ele, claro, o f**ão! Allan Poe era americano e, posso estar enganada, percebi em vários pontos (e olha que é um conto, hein!), seu preconceito, ou melhor, ares de superioridade em relação aos europeus. Não curti isto.

Esta segunta trama, resumidamente, é sobre uma carta furtada por um político, que o deixa em vantagem sobre uma senhora pública e ele começa a chantageá-la. Os argumentos de Dupin, ao revelar como conseguiu recuperar a carta, têm lógica, mas mesmo assim eu achei que ele forçou um pouco a barra. Foi meio sem sal.

Algumas pessoas não gostam de escritores que narram em primeira pessoa, como Edgar Allan Poe faz, mas isto pra mim é indiferente. Eu até que gostei de sua narrativa, embora pareça mais um monólogo em certas partes. Quando Dupin começa...

Agora, um alerta aos tradutores, que eu vou fazer sim, pois quando é um escritor nacional e desconhecido que comete o mesmo tipo de deslize, só faltam crucificar a criatura. E sabemos que o sucesso de obras internacionais, também se deve, em parte, a traduções de qualidade. Página 67:

O endereço, contudo, estava voltado para cima, e estando o conteúdo escondido, a carta passou desapercebida. (negrito meu).

O correto seria "despercebida", que significa: "que não se viu ou não se ouviu".; a palavra utilizada significa outra coisa: "desprevenida, desprovida".

Não posso formar, ainda, uma opinião completa sobre o escritor, pois teria que conhecer mais textos seus. Porém, considerei estes dois contos boas leituras, com as devidas ressalvas. No Skoob, avaliei com 3 estrelas, pois apesar de ter gostado, não me impressionou tanto. Mesmo assim, vale à pena conferir!

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma romancista policial romântica é a Bianca Carvalho!


Romance policial? Pois é! E que surpresa boa!

Digo isto, porque quando comprei Jardim de Escuridão na Bienal do Livro 2011, foi a própria escritora quem fez um breve resumo de sua obra. Ela explicou que o livro era um misto de romance, mistério, drama, uma dose de magia e de suspense. De cara me agradou, principalmente por causa do suspense. Mas, mesmo assim, ao olhar a belíssima capa, eu imaginei que a trama giraria mais em torno de um romance (no sentido estrito da palavra).

Que nada! rsrsrs... Bianca Carvalho esqueceu de mencionar naquele dia, que sua obra é um genuíno romance policial, sim! E dos bons!

A história começa com o falecimento de Lolla e esta deixa cartas para suas três netas. Porém, não são cartas comuns, já que as mulheres desta família, todas elas de alguma forma, têm dons especiais. E aqui, Bianca descreveu a verdadeira magia (ao menos no meu modo de compreender): o dom que nasce com a pessoa e que não precisa de rituais mirabolantes para se manifestar.

Neste primeiro volume da trilogia a protagonista é a neta mais velha, Faith, uma conhecedora das flores e de seus mistérios. É alguém que sofre por acontecimentos recentes e precisa reencontrar o caminho para a felicidade.

Nesta busca, Faith se vê envolvida em uma investigação de mortes seriais de mulheres, cujo assassino é apelidado como "Assassino das Noivas." No início, ela não consegue entender como o seu interesse e empenho naquelas mortes misterioras, poderiam alterar o seu destino. E é neste ponto que a escritora mostrou seu talento: amarrou muito bem os detalhes e tudo faz sentido no final.

Bianca é uma escritora jovem, mas denota muita maturidade. Não só pela sua escrita limpa e bem estruturada. Ela consegue construir uma trama policial consistente e sem discrepâncias, o que posso afirmar, é difícil. Pois, ao contrário do muitos possam imaginar, histórias policiais exigem um conhecimento técnico, o mínimo que seja. E ela tem muito jeito pra coisa. Digo isto, não só como escritora de suspenses policiais, mas também como profissional atuante na área penal.

Além disso, a autora parece conhecer dilemas que os policiais têm que enfrentar constantemente, tais como: noites de sono perdidas no trabalho, temperamentos oscilantes em razão de só lidarem com coisas malignas, pressão da sociedade e também a má vontade predominante que as pessoas "de bem" têm em dizer o que sabem... Como um amigo meu, da segurança pública, costuma dizer: as pessoas comuns exigem que os policiais sejam super-heróis, mas ninguém quer lhes dar super-poderes"... Bianca Carvalho, de uma forma sutil, traduz bem esta sentença.

E todo o mistério criado na resolução dos crimes, é suavizado por uma história de amor. Mas sem adoçar demais, pois não existe um abuso de emoções e o drama é na medida certa.

Também gostei de que, embora seja uma trilogia, este volume teve uma conclusão. A pior coisa, na minha opinião, é quando você fica querendo saber o fim daquilo e tem que aguardar o próximo volume. No caso da obra de Bianca Carvalho, embora haja uma continuação, houve um fim. A expectativa agora é em relação às outra personagens. Tranquilo pra mim, que consigo esperar neste caso.

Não costumo sair tecendo elogios simplesmente porque o autor é nacional e/ou porque o conheço... ou ainda porque ele ou ela podem ler o meu livro e aí haver uma "troca de boas resenhas". NÃO MESMO! Eu só elogio porque gosto e quando existem pontos negativos a serem apontados, eu faço (e gosto que façam o mesmo comigo)... ou então, quando percebo que o escritor pode se ressentir, prefiro deixar quieto. Mas Jardim de Escuridão foi, de fato, uma leitura excelente pra mim e não vou ficar inventando coisas negativas só pra parecer imparcial, pois não há necessidade disto. Estou sendo bastante imparcial. A obra me agradou muito e pronto! Posso afirmar que, dos poucos livros de colegas pátrios que conheci até agora, este está liderando!

Parabéns Bia! Te desejo muito sucesso, porque você merece! Quem tem talento de verdade merece. Jamais duvide disto!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

LEITURA IRRESISTÍVEL!


Uma semana antes de fazer esta resenha, eu li o primeiro livro do autor, Cicatrizes de um Segredo e já fiz os devidos comentários no Skoob e aqui no blog. Agora, com Irresistivelmente Fatal, já posso afirmar com mais convicção, que Márcio Scheibler segue um estilo parecido com o de Agatha Christie. A diferença é que os livros de Márcio são ainda mais diretos, ao passo que os de Agatha "passeiam" mais por alguns pontos, tais como diálogos e descrições de personagens.

Basicamente, a trama gira em torno de um homicidio brutal de um rapaz jovem e rico, mulherengo, porém gente boa. A última pessoa vista com a vítima é uma jovem e linda mulher, que passa a ser a suspeita número 1 do crime. A questão primeira é descobrir a identidade desta pessoa. Aí, entra em cena o já conhecido detetive Otávio Medeiros, que assume o caso a pedido de seu sobrinho Rodrigo, que era o melhor amigo da vítima fatal, Leandro.

O livro flui, assim como o Cicatrizes de um Segredo e em Irresistivelmente Fatal, a dúvida que tive quanto à real situação do detetive Otávio Medeiros no primeiro romance, fica esclarecida: ele era policial também e não somente um detetive particular, conforme sugeria a primeira obra.

Na história de Irresistivelmente Fatal, entretanto, Otávio já se aposentou e é um ex policial. E aí entra um fator que me incomodou um pouco, pois "ex" significa que não é mais, logo, as prerrogativas acabam. Na prática, Otávio poderia muito bem participar das investigações e ajudar a polícia... Problema nenhum até aqui. A questão que fugiu da realidade, foi o fato de Otávio dar ordens ao policial Moreira, dizendo que este deveria sempre consultá-lo antes de agir ou até mesmo de dar entrevistas sobre o caso.

Um policial civil só presta obediência aos seus superiores hierárquicos, sendo o mais imediato o delegado de polícia (que nem aparece na obra). Moreira poderia até ter acatado a atitude de Otávio por pura amizade, mas a maneira como isto é colocado no livro, dá a entender que o policial abaixou a cabeça para o ex policial. Se isto ocorresse na vida real, o policial da ativa estaria sujeito até mesmo a responder a uma sindicância administrativa, pois investigações criminais são sigilosas e privativas da polícia judiciária (polícia civil).

E repita-se, Otávio é um particular, pois está aposentado. Seria menos admissível ainda ele, Otávio, responder a uma coletiva da imprensa. Como romancista policial e profissional da área criminal, não posso deixar de comentar estes pontos, espero que o autor entenda. A intenção é colaborar.

Tirando o exposto acima, posso dizer que a trama é criativa, a escrita limpa e direta e vale à pena, principalmente para quem não está a fim de ler livros enormes e com muita enrolação desnecessária.

Não pude deixar de me lembrar de alguns filmes de suspense quando li este livro, sendo um deles o Desejos (Final Analysis), estrelado nos anos 80 por Kim Basinger e Richard Gere. Não vou dizer qual, mas determinado trecho me fez lembrar na hora do filme, rsrsrs. Não que seja igual, mas trabalha com a mesma ideia. E eu amo este filme!

Em suma, é um livro muito bom e que merece estar nas estantes dos amantes da literatura policial e de suspense.


Mais uma vez parabenizo o Márcio Scheibler pelo seu trabalho!

domingo, 18 de setembro de 2011

LEITURA DIRETA, EM RODEIOS


Pra começar, adorei quando comprei o livro na Bienal 2011 (aliás, comprei os livros, pois junto adquiri Irresistivelmente Fatal, do mesmo autor) e constatei que é tamanho pocket e não muito extenso. Isto porque há épocas em que gosto de ler livros maiores e mais detalhados, o que não retrata o momento atual. Em Cicatrizes de um Segredo, eu me deparei com um estilo de escrita rápido, que não cansa, quase nos moldes de um roteiro, de tão direto que é.

Temos um dilema na trama, quando Ricardo perde a confiança em seu melhor amigo de infância, Martim, acreditando que este o traiu e furtou suas joias de família, escondida em uma sala secreta de uma universidade onde ambos estudaram. Desde o início, fica claro para o leitor da culpabilidade ou não de Martim.

Então, entra em cena outro amigo de ambos, Otávio Medeiros, que se tornou detetive particular e resolve dsvendar o misterioso furto. Digo misterioso, pois além de o ladrão entrar em uma sala que, supostamente, somente Ricardo e Martim conheciam, ele retornava ao local do crime e deixava pistas enigmáticas, confundindo ainda mais o detetive e os dois amigos. Aliás, aquelas contas me deixaram tensa, kkkkk... Matemática, arghh! Mas foi uma grande sacada do autor.

O desfecho é interessante e nos faz pensar no quanto o mundo dá voltas, não importa quantos anos se passem, não importa quantas gerações sucedam. E ainda temos outra surpresa, logo após a autoria do crime ser revelada; e esta parte final dá um toque de aventura à trama, que até então segue sem sobressaltos.

É uma boa trama policial, recomendada com orgulho, até porque amo histórias policiais, tanto é que as escrevo também. Logo, me senti em casa, rs. Porém, tive dúvidas quanto a certos aspectos ligados ao fator polícia investigativa e procedimentos. Isto não é relevante para quem busca uma leitura prazerosa e instigante, como é o caso de Cicatrizes de um Segredo, mas se torna importante para aqueles leitores que gostam de se mantem informados e esclarecidos acerca do trabalho policial; neste caso o da nossa Polícia Civil.

Uma questão é o fato de Otávio Medeiros ser um detetive particular e ter um acesso tão aberto à perícia e à delegacia de polícia. Não sei como é a estrutura da Polícia Civil do Sul, logo, estou somente questionando e não julgando, mas o normal é um acesso bem restrito. Um detetive particular não tem elo algum com o Estado e por esta razão não poderia solicitar perícias tão facilmente a um perito oficial. Talvez o autor pudesse ter dado a entender que Medeiros tinha muitos amigos na polícia, que era um excelente colaborador e quando precisava estes retribuíam com favores... Nós que somos da área, sabemos que isto acontece, mas não a troco de nada. Senão, fica a errônea impressão de que um particular trabalha diretamente com os órgãos de segurança pública e tem acesso a laudos oficiais livremente, o que não acontece, salvo nos casos de trocas de favores, como já citei.

Entretanto, quando ocorre uma prisão na história, o autor a descreve muito bem: Medeiros, que não tem Poder de Polícia (por não ser agente policial), ao relevar a autoria do furto, pede aos verdadeiros detetives que prendam a pessoa. Ficou dentro da realidade.

Ai, retorno à questão do detetive particular, quando no final é mencionado que Medeiros retornou à delegacia onde trabalhava... Neste caso, surgiu de novo a dúvida se Medeiros era somente um detetive particular que trabalhava informalmente como colaborador (X-9) da polícia ou se, além de seus serviços particulares, também era servidor público. Às vezes acontece: o policial faz "bicos" diversos, como segurança e até mesmo como detetive particular. Ficou esta interrogação.

Outra questão que fugiu um pouco da realidade, foi o fato de uma cena de nítida legítima defesa de terceiros, ter sido tratada como um flagrante comum. Pelo que vejo na rotina policial, a pessoa em questão responderia a um inquérito sim, até para apurar e constatar a legítima defesa e a absolver sem dúvidas. Mas não seria tratado (a) como um (a) homicida doloso. Muito menos algemariam, já que a situação era peculiar e a pessoa não demonstrava periculosidade.

Estou apontando estas questões, não para desmerecer a obra, até porque GOSTEI BASTANTE, que fique claro! E sim para levantar discussões positivas acerca da literatura policial, suas particularidades, e saber do autor o que ele realmente quis dar a entender; se ele preferiu deixar estas margens de interpretação livres para cada leitor; se, por se tratar de uma ficção, ele preferiu alterar até mesmo certos detalhes da rotina policial, enfim... Temos poucos escritores brasileiros nessa área e até agora tenho gostado das obras que li. Posso citar Vides Júnior e Carllos Santos, Sérgio Pereira Couto e agora o Márcio Scheibler.

Este último tem uma escrita muito boa, um Português limpo e uma maneira dinâmica de narrativa. A ideia central da trama é legal e no geral, dá orgulho a quem escreve o mesmo gênero literário. Pena que seu livro acabe tão rápido... Ele poderia ter rebuscado mais, sem encher linguiça (em momento algum ele faz isto, como eu disse, seu estilo é bem direto), para que o leitor degustasse mais devagar de uma trama tão boa. Acho que quando gostamos do livro, não queremos que ele acabe, não é mesmo? rs

Então, leiam Cicatrizes de um Segredo, pois é uma leitura que vale à pena. Agora, vou partir para Irresistivelmente Fatal!

Parabéns ao escritor brasileiro Márcio Scheibler por sua obra!



domingo, 7 de agosto de 2011

RESENHA DO LIVRO O ADVOGADO DO DIABO - ANDREW NEIDERMAN


Eu assisti o filme O Advogado do Diabo e achei simplesmente fantástico! A maneira como o tema central foi abordado no filme, foi muito mais intensa e emocionante do que no livro. Aliás, quem espera ver uma trama similar, esqueça! Em alguns pontos se assemelham, mas diria que em uns 30% somente. quando li o livro me deparei diante de outra história.

Mas, não quero dizer com isto que o livro seja ruim. É uma boa obra, que atende àqueles que desejam uma leitura mais direta, objetiva e pouco reflexiva. Na verdade, é o tipo de livro que tem uma história legal e interessante, mas que você lê muito rapido porque o próprio autor quebra rapidamente o suspense e já faz as conclusões pelo leitor.

Temos um "diabo" mais contido nesse romance e talvez eu pense assim, justamente após ver a atuação maravilhosa de Al Pacino no cinema. A esposa da Kevin é diferente, o próprio Kevin também. 

Talvez eu até desse uma nota melhor, tipo 4 estrelas, caso não tivesse assistido o filme. Fato é que este é um dos poucos casos em que um filme supera o livro que lhe serve como base.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

RESENHA DO LIVRO A COISA - STEPHEN KING


Eu li esse livro por causa do filme, que assisti no início dos anos 90 com alguns amigos. O filme foi criado em formato para a televisão, tendo sido exibido nos EUA como seriado, na verdade, um mini. Entretanto, quando adaptado para VHS (atualmente DVD), torna-se um longa bem longo... O trocadilho foi inevitável.

Bem, eu amei e ainda amo o filme, mas após ler o livro... Caramba! É uma obra-prima: do medo, do suspense... No início eu ainda não estava acostumada com o estilo de Stephen King: demasiado detalhista e prolongado, mas depois, conforme a história aproximava-se do fim, eu sentia pena. Pena de ver Bill, Stan, Ben, Beverly, Eddie, Mike e Richie saírem de minha vida. Eu me senti junto deles no desenrolar dos fatos, tanto na infância como na fase adulta. Envolvi-me com eles, com seus temores, com suas dúvidas, com seus problemas pessoais... A responsabilidade inimaginável nas mãos de sete crianças, nada mais do que crianças, que se prendem não só por uma promessa, mas também pela amizade. São personagens extremamente carismáticos.

Realmente, se fosse fazer um filme fiel ao livro, seria um mega filme. Pois, muitos fatos e personagens foram suplantados na telinha. E no livro, existem cenas fortes, chocantes e ousadas, que acredito certas autoridades não permitiriam serem filmadas (sem detalhes, não quero contar SPOILERS), justamente por envolverem crianças.

A Coisa domina toda uma cidade e isto nos faz refletir o quanto vemos da mesma no mundo real e o quanto os mais inocentes pagam por isto. O mal está aqui e ali, disfarçado sob inúmeras formas e sempre existiu. Stephen King aborda muito bem a temática.

É uma leitura altamente recomendável e embora seja extremamente detalhada, até mesmo leitores que gostam de abordagens mais diretas (como eu), vão se sentir envolvidos com o nebuloso clima da cidade de Derry e com as fantásticas crianças/adultos, que se reencontram após 27 anos para cumprirem uma promessa e destruírem a demoníaca Coisa.


Um livro inesquecível!!!


domingo, 31 de julho de 2011

RESENHA DO LIVRO ASGARD - A SAGA DOS NOVE REINOS


Organizado por Sóira Celestino e Evandro Guerra e publicado pela Jambo Editora (Porto Alegre), essa sensacional compilação de contos, poemas e odes nórdicas é obra dos seguintes autores nacionais:

Ives Gandra da Silva Martins, Simone Marques, Evandro Guerra, Sara Zero, Suzy Hekamiah, Lorde Ferreira, Gisele Garcia, Iam Godoy, Walter Tierno, Milena Oda, Oscar Mendes Filho, Nana B. Poetisa, Regina Castro, Sóira Celestino, Marta Reis, Carolan Nathan, Vinícius Reidryk, Newton Emediato Filho, Silvia Ferreira Lima, Ricardo Félix, Alex Mir, Sophie Reyer, Márson Alquati, Alfer Medeiros, Paula Moreira e Victor Iturrioz Pallejà.

Bem, difícil acreditar que com um time desses, a leitura não seja boa. Não é boa realmente, é ÓTIMA! Cada autor consegue levar o leitor ao mítico e frio mundo dos nórdicos, com seus deuses mortais, porém poderosos e com características humanas, bem como o frio devastador que os assolava, as guerras brutais e intermináveis e as esperanças dos nobres guerreiros em encontrarem as Valquírias... Estas que, após suas mortes nos sangrentos campos de batalhas, os levariam ao eterno salão de Odin, onde brindariam eternamente e contariam suas glórias passadas uns aos outros.

Em meio a variados contos, cada um com a marca própria de cada autor, nos deparamos com odes e poemas belíssimos, como o de "Yggdrasil, Árvore do mundo... origem da vida", de Nana B. Poetisa, que em poucas palavras, nos mostra uma sabedoria antiga, que retorna com força total ao mundo contemporâneo.

A arte do livro é muito bonita, retratando o lendário martelo de Thor pairando em um céu tormentoso, cercado por raios poderosos. Poder! Sim, os contos nórdicos falam muito disto. O poder da guerra, o poder do amor, o poder da ira, o poder do frio, o poder da vida e, claro... o poder dos Deuses! E mesmo ameaçados constantemente pelo Crepúsculo ou Ragnarok, eles renascem de alguma forma, pois tudo não passa de um ciclo.

Uma obra imperdível para quem gosta de mitologia, Asgard - A Saga dos Nove Reinos, relata contos nórdicos antigos e, pasmem, contemporâneos. Alguns contos nos mostram que o fator tempo e espaço só é um limitador para as pessoas, nunca para os Deuses e que estes continuam dando vida aos seus mitos através de seus novos profetas... ou poetas... ou escritores!

terça-feira, 26 de julho de 2011

RESENHA DO LIVRO RELÍQUIA - CAMINHOS DE UM TEMPLO EGÍPCIO (GUSTAVO DRAGO)


A trama abordada em Relíquia - Caminhos de um templo egípcio segue o estilo de obras cinematográficas de sucesso, como Indiana Jones, Tomb Raider, tudo por uma esmeralda, entre outros. Particularmente, sempre preferi tais enredos nas telonas, até mesmo por causa dos alucinantes efeitos especiais, por isto nunca havia lido qualquer obra do gênero.

Entretanto, tive meu primeiro contato com uma obra no estilo literatura fantástica, lendo o livro de Gustavo Drago e Nana B. Poetisa e confesso que foi uma experiência muito boa!

A uma porque é sempre bom se abrir ao novo, ainda mais quando o novo tem qualidade e nada deve aos escritores internacionais, muito pelo contrário; a duas, porque os autores conseguiram reunir romance, comédia, terror, ação, aventura, doses de erotismo, mistério e suspense, sem massacrarem o texto, que traduz uma leitura fluida, prazerosa e coerente.

O único ponto que não me agradou muito, mas isto é muito pessoal e não desmerece a obra, é o fato de alguns diálogos parecerem emotivos além da conta (Jennifer e seu pai); porém, outros leitores podem até se identificar com o foco sentimental, então, só estou demonstrando meu ponto de vista.

Não posso comparar com outras obras similares, pois conforme expliquei, é a primeira que leio, mas se conquistou a mim, que sou muito mais familiarizada com romances policiais e suspenses, com certeza agradará muito aos leitores do gênero, em especial os mais jovens, sem deixar os mais maduros de fora.

O problema maior é que quando você termina de ler Relíquia, fica desesperada para saber o que vai acontecer, pois os autores (cruéis, rsrsrs) programaram uma saga de sete volumes, então... Resta torcer para que o segundo volume seja lançado logo! E o terceiro, o quarto, etc.

Parabéns aos autores! E, leitores, não percam tempo, leiam Relíquia e se divirtam muito no enigmático Egito e seus templos perdidos nas areias mágicas do deserto.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Orgasmos Fatais


       


Até que ponto as tentações podem mascarar a verdade? Até que ponto o amor pode se transformar em ódio? Até que ponto o prazer se transforma em dor?
Mariana é uma bela mulher, que é assassinada brutalmente em seu apartamento. Daniela, igualmente linda e sexy, porém insensível e sarcástica, é apontada como autora do crime, por familiares da vítima. A razão seria a rivalidade pública entre ambas, cujo pivô é Rodolfo, noivo de Mariana, jornalista e advogado influente na política, um homem calculista e ex-amante de Daniela.
Douglas é o policial civil encarregado das investigações, mas apesar de sua experiência em desvendar os mais nebulosos homicídios, se vê envolvido numa rede de manipulação, onde o bem e o mal se confundem e as pessoas demonstram que nem sempre são o que aparentam. Policial e suspeita sentem uma mútua e tórrida atração; e ele luta para que seus sentimentos e desejos não o impeçam de cumprir o seu dever. Sexo, relacionamentos explosivos e morte caminham de mãos dadas neste suspense policial, que prende a atenção do leitor do primeiro ao último capítulo.